Sentada, me refazendo, tentando. Busco agora uma nova maneira de lidar com as coisas sem ser demasiadamente dramática. Sei que a vida o é por si só. Não quero mais teatro do que devo ter.
Sinto-me madura, muitas vezes obscura até mesmo para os 40 e poucos que ainda tenho. Nem vividos ainda. De fato se for analisar, ainda não saí dos 30 e alguma coisa, onde minha vida era pura correria atrás do vento, de onde me contento com muito pouco. Muito pouco.
Os filhos são a maior realização. Neles eu SOU ALGUÉM. Sinto-me como parte de um plano realmente bem engendrado para que eu esteja e seja aqui, neste exato momento, onde tenho quase sempre a sensação de inadequação sobre todas as coisas. Nada em mim confere realmente. Nada em mim se afere de tal forma que eu me sinta confortável e diga que estou no lugar certo, na hora certa.
Meu deleite jamais será o leite derramado. Nunca vou sorrir para as tristezas da vida. Nunca vou achá-las engraçadas.
Tristeza é triste, dói, a gente chora e pronto. As coisas vão se resolvendo.
Não creio nos eruditos que dizem depois de um tempo sorrir de situações pra lá de trágicas. Não comigo. O que é trágico tem nome e nome ruim. Seus nomes serão dados até o fim.
Porém o que é bom, é maravilhoso demais, tão sublime e fantástico para ser narrado aqui, não consigo dar nomes. São espetaculares e grandiosos e que devem pertencer aos nomes dados por Deus às estrelas , astros. Sim, sei que Ele as chama pelo nome. Meu nome é dito por Ele e eu escuto, assim como canto o nome dos meus filhos. Chega a ser uma música melodiosa, com linda harmonia e vontade de viver...
Meus sonhos são sonos. Meus sonos são sonhos. Numa ou outra esfera, estou bem. Grata. É o momento da ausência da dor. Hoje, posso dizer catedraticamente, da dor física que me abate há alguns anos.
Já estive amarga, já beirei ao desespero, senti tudo o que uma pessoa com dor crônica, apenas estas pessoas, podem dizer sente, sofre. Ninguém mais. Sem conselhos, sem tentativas vãs de ajuda. Não há ajuda. Depois que os médicos se vão todos, que os exames se esgotam, que todas as pílulas de todas as cores e formatos e dosagens já foram tomadas e tentadas, você se sente só. E você deve ficar só. A dor é sua. Ninguém divide dor FÍSICA, com outrem. Isto não existe. Eu tentei por várias vezes tomar a dor de outros amados para mim, jamais consegui uma dorzinha de cabeça. No máximo uma tensão nas costas que atribuo à tristeza. Uma das formas de tristeza, é ter dor nas costas. Logo percebem que você anda cabisbaixo, triste, insone...
De todos os infortúnios a falta de sono é o pior.
Não é raro pessoas brincarem comigo e acharem que meu sono exacerbado é algum tipo de piada. Não é não.
Eu preciso de medicação que controle a dor. A dor naturalmente nos deixa impacientes e irritados, então eu preciso de outra medicação que controle o humor e não me descaracterize como ser humano. Como eu nasci, com meus atributos, virtudes, defeitos. Não posso deixar que a dor controle até minhas atitudes.
Daí vem o sono. Avassalador, impetuoso, urgente, lindo, deixando-me com um ar de graça e vida, de renovo e esperança, de “quem sabe ao acordar?”
Sim, alguns me chamam de fraca. Se dormir para fugir da dor for fraqueza, não me importa. Podem me chamar de fraca sim. Neste meio tempo, nesta meia vida, nesta metade de tudo, inclusive de mim mesma, vou aprendendo, que o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza e que somente a graça d’Ele me basta.
Ele me tem dado o privilégio de dormir.
De acordar e ver filhos lindos, ouvir lindas canções, ter meus pais por perto sendo livrados de tantas doenças, tocando cantando conosco, compartilhando dia a dia dos milagres que o Deus a quem servimos faz. Tenho o privilégio dos meus irmãos que eu amo com minha alma, que são música na minha vida, tenho a alegria das minhas cunhadas, dos meus sobrinhos que são o “orvalho” que já não existe mais na nossa terra seca. Eles têm o poder de produzir isto em nós. Em qualquer época do ano...
Talvez só eu veja. Sempre fui um tanto excêntrica. Não importa. Eu vejo e sinto o orvalho que se esvaiu daqui...
Anda por outras terras, onde ainda quero ir.
Hoje, eu só quero dizer que as coisas são complicadas sim. Jesus não disse que seria fácil e não é. Mas Ele nos falou para termos bom ânimo, afinal Ele venceu o mundo, a morte, as trevas e nós somos mais que vencedores com Ele que nos amou sobremaneira.
O que eu quero mais?
Jesus, santificação, o pão nosso de cada dia, amor ao próximo e excelentes e profundos sonos...
(Boa noite!)
Gláucia Carvalho
14.12.210