domingo, 6 de dezembro de 2015

Desentendo

Desentendo!
Na maior parte do tempo sou alienada.
Exato! Não sei de nada!
E do pouco que entendo, não quero saber.
Saber é sofrer!
Cansei daqui.
Sou salomântica inteira.
O que me prende é videira,
De onde vem vinho bom.
Nada mais recebe meu apego.
Tudo que amei nesta terra, me dá medo!
Sou apenas mais uma na multidão.
Clone de outros clones que sofrem da pior solidão.
Ter gente por perto e sentir-se só!
Ah que dó!
Ser quem habita em meu ser.
Me resumo a dores diárias sem fim.
À saudade dos que partiram sem mim,
E me deixaram neste lugar hostil.
Talvez uma praia deserta, talvez uma cachoeira,
Que me lavasse alma inteira,
Derramasse um pouco dos prazeres que o Criador nos deixou.
Meu resumo, ratifico, é solitário.
A um piano e uma voz que se calou.
E me pergunto exaustivamente:
- será que alguém realmente me amou?


Gláucia Carvalho
05.12.2015

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Quimeras

Escrevi um samba uma vez
Ele dizia que sem talvez,
O amanhã chegaria,
Novo dia, calmaria...
As palavras hoje são outras,
Porque são absolutamente todas,
Não poucas, 
As manhãs em que desejo novamente o luar.
Quem sabe uma chuva de gotas serenas,
Que tornem mais amenas,
As dores do meu corpo.
Meu espírito chora quase morto,
Neste ciclo exauridamente repetido.
Quisera eu ter ido.
Quimera, quimeras...
Já foram boas minhas primaveras...

Gláucia Carvalho
09.11.2015

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Pés no chão

Madrugada...
Tenho nada!
Tenho tudo!
Tenho até o absurdo, de achar que tenho...
Li agorinha, os sermões de vida.
Li sobre os valores inversos,
Sobre sábios e néscios,
Sabedoria e loucura,
Percebi quão pura é a fé!
Muito mais que Poder,
É poder ter um pé,
E outro assim, pisados no chão.
Muito mais que qualquer tesouro,
É um puro coração...

Gláucia Carvalho
madrugada de 15.10.2015

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Sonhos de eternidade

Sonhei com azul profundo,
Daqueles de mergulhos onde se toca o chão.
Sonhei também em verde escuro,
Sombra e esperança no coração.

Sonhei descalça e descansada
Até consegui não pensar em nada,
Que não fosse um canto tímido de passarinho.

Sonhei com ventos me contornando,
Fazendo dança no meu cabelo,
Sonhei ter visto um anjo cantando,
Estava a sonhar, ou fui eu mesma vê-lo?

Nessa linha tênue do sono e despertar,
Quando as cores se misturam em amarelo,
Ainda que nossos olhos enxerguem só cinzas,
Há certeza em mim do Eterno!

Daquilo que nenhum olho viu,
Nem ouvido sequer escultou,
O que tem preparado para nós reles mortais,
Iguarias, vida eterna, dom do próprio Autor!

Gláucia Carvalho
2.8.2015

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Tempo

De quantas vidas vou precisar pra saber como se vive?
Às vezes me sinto como uma criança perdida dos pais...
Eu vivi menos, ou vivi mais?
De quantas estrelas eu vou precisar para me localizar neste deserto?
Fui assim tão longe, ou continuo perto?
Quantos milênios teria eu que viver,
Para não saber nada, ou para apenas saber?

Que música teria que ser ouvida, 
Para eu permanecer ou ser minha despedida?
Como me preparar para o desconexo, inverso,
Versos estes que nunca escreverei...
Não! Não! Tempo não terei...
E ainda por olhar desatento,
Que não me vê por dentro,
Há uma lenda que dita,
Que o que mais tenho é tempo!

Gláucia Carvalho
26.06.2015

terça-feira, 23 de junho de 2015

Oração

De vermelho, cor de sangue, cor de vida,
Ela se deitou na água de mansinho.
Em mansa água devagarinho,
Foi desenhando com os dedos,
Os mais diversos segredos, 
E pedidos a Deus!

Mulher de vermelho, tão linda!
O que pode mais querer?
Juntou-se à água, lágrima salgada,
Selando a promessa de outrora:
- Meu Deus! Consagro ao Senhor agora,
Este fruto do ventre meu.
Digo aos quatro ventos, como disse do primeiro:
- Tudo que é meu é Seu!
Como é Sua minha vida e de quem mais vier...
Estou selando com vermelho sagrado,
Esta singela oração...
Por favor, dê aos  meus filhos saúde e paz
E eu te serei devoção!

Gláucia Carvalho
23.06.2015
(escrevi isto agora, olhando para a imagem da minha prima grávida. Érica Bernardes. Amo você querida!)

terça-feira, 9 de junho de 2015

Saudade de Pai

Queria chorar gigante!
Um choro incontrolável, desmedido, insano.
Daqueles que lavam a alma, corpo, coração.
Queria chorar bem grande!!!
Gritar aos quatro ventos como dói a ausência.
A ausência de quem se amou uma vida inteira!
Queria chorar torrentes e correntezas,
Mares e suas ondas,
Rios e cachoeiras,
Pra limpar as palavras que não foram ditas a tempo.
Acho que não disse o suficiente o quanto amei!
O quanto quis bem! Como era importante para mim sua presença.
Sua essência, seu ser e pureza.
Um desbravador da nobreza,
De ser simples porque é!
Queria chorar tudo de uma vez e não aos pedaços.
Queria não guardar mais nenhum traço,
Desta dor imensa que me consome.
Não existe um ai, outro ai e outro ai,
Que preencha o meu vazio de não poder dizer mais:  pai!!!

Gláucia Carvalho
09.06.2015

domingo, 31 de maio de 2015

Seguindo

Um dia você acorda e gosta do que vê.
Mesmas cortinas, só que abertas.
Mesmas janelas, escancaradas.
Mesmo telhado, com cheiro de barro.
E me pergunto:
- porque as janelas de hoje em dia não nos permitem deitar nos telhados como antes?
eu amo telhados!
Amo altura! Árvores esguias e exibidas!
Sombras, gosto até do sol.
Bem certo que prefiro chuva, mas sei que ela não vem tão cedo.
Não, não tenho medo!
Já passei por tantas securas, aguento mais uma e outra.
Vou seguindo!
Sambando, cantando, harmonizando uma vida, que é vida verdadeira,
Na videira!
No vinho puro e bom.
No sangue transformador.
Que nos tira das cinzas e faz tudo novo.
Eu vivo pra isto.
É Ele minha sombra, meu telhado, minha chuva,
Meu Cristo!


Gláucia Carvalho
26.05.2015

sábado, 7 de março de 2015

Choro Cantado

O meu choro se mistura com o que parece um canto.
Será que é choro o cantar? Será que é canto o meu pranto?
Choro por aqueles que se foram e deixaram em mim um vazio.
Choro pela dor que me consome, no calor que sinto quando faz frio.


Canto pra não desistir, do meu ofício de cantar.
Canto porque é difícil, cantar pra não chorar.
E nesta mistura estranha, do canto e do meu gritante choro,
Juntam-se a mim as estrelas, que chorando gostas de luz, comigo fazem coro!

Gláucia Carvalho
07.03.2015

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Papai Passarim

Há um novo passarinho, 
Que vem e volta pro seu ninho,
Cantando no meu pequeno pomar.
Eu ia perguntar ao meu pai:
- Quem ele é? 
Agora, 
- Quem vai me falar?

Certamente ele saberia, até mesmo imitaria.
Vovô e vovó também, meu Tio Dito se foi,
E com eles está na glória,
Vou interromper a minha história, 
Sem saber do canto lá de fora?

Não, Não!
Perguntarei diretamente ao Criador,
Que faz as pazes com a dor, 
Transforma o pranto em alegria,
A angústia em poesia,
E criou o passarim,
Do canto mais perfeito que já ouvi!

Nunca fui lá boa imitadora,
Exceto de algumas cantoras 
E cantores com quem aprendi.
Meu pai me foi o primeiro,
Foi também o derradeiro,
Que me ensinou a cantar como "passarim"!

Sem nenhuma pretensão
A não ser ao dono de tudo devolver
O que se é, se canta, do nascente ao poente!
Vou seguir o exemplo dele, 
Até ter asas e voar!

Para os braços de Quem me criou,
Que vem e não vai!
Já sei! Tenho a resposta do enigma!
Quem canta em meu ouvido é ele. 
O meu lindo e amado pai!

Gláucia Carvalho
manhã de 20.12. 2014

(Singela homenagem ao meu paizinho, Onésimo Gomes da Silva, (07.04.1940 - 19.02.2015)
que criou asas e voou...)