domingo, 14 de fevereiro de 2016

Palavras

Me chamam de poeta, sou nada!
De uma espécie de mensageira, piada!
Uma amiga das palavras, conversa!
Penso até que elas me odeiam,
Porque me perseguem implacáveis,
Deixando-me insone o corpo,
Até escrevê-las fielmente,
Contando meus segredos a um louco.

Nem adianta travar as portas,
Tapar as frestas, fechar vidraça,
Elas entram sei lá por onde,
Importunam-me e só vão para longe
Quando eternizo minha desgraça!

Gláucia Carvalho
08.01.2003

Um comentário:

David Sérgio Brito disse...

Na madrugada desperto, quando perto de conceber-te, quando prestes a dar-te à luz.
Surges inesperadamente no túnel da escuridão do meu sagrado momento de repouso.
Entorpecido, do sonho vejo-me obrigado a ausentar-me, pois tuas inspirações não avisam
quando vão chegar, não marcam hora, não agendam data, não há planejamento que as acomode,
nem compromisso tão importante que as faça esperar.

Por mútua conveniência começo a escrever-te, quiçá por medo da desventura de esquecer-te.
Não há inconveniente, do futuro ou do presente, que me afaste do encontro inevitável
da caneta com o papel. Sim, porque tua concepção é analógica, teu parto ainda é normal.
Teu batismo, porém, é digital, e o teu crescimento é questão de momento,
depende do simbiótico amadurecimento da relação com o teu genitor.

Vez em quando são requeridos retoques. Se observada atentamente, surge não raro necessidade premente de aparar alguma aresta, corrigir alguma imprecisão, expressar-te com mais exatidão,
por devoção e respeito à tua sapiência intrínseca, à nossa respeitável convivência, e à revigorada concepção de teu mais crítico leitor.

Não há recalques nem mágoas nesse relacionamento, ainda que surja o desinteresse ou arrependimento posterior, porque a mente em transformação é como o vento em seu furor.
Mas, não perdes a importância nem o frescor da tua infância, por maior que seja a distância
entre a data de teu original registro e a realidade atual de teu autor.
És como a tarde em seu fulgor, tens lugar cativo na história,
até quando, da existência, o lapso de memória for o meu próprio desertor. ("O POEMA DA POESIA", em 30/08/2011... http://www.davegroover.com.br/versus/BLOG/Entradas/2011/9/1_O_POEMA_DA_POESIA.html)