quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Natal, pia, louças e patins

Ontem, véspera de natal. Como sempre reunídos na casa da minha mãe com família querida. Irmãos, sobrinhos, cunhadas, primos, primas, tios, criançada.
Música não falta. É nosso início, meio e fim. Pianistas também não faltam. Para cada música podemos escolher um que toque melhor que o outro.
Linda palavra da minha mãe, baseada em um texto deixado pelo nosso amado pastor Hélio Silva, alguns dias atrás pelo Facebook. (Vou compartilhar!)

Mais músicas, oração, agradecimento e comida. Muita comida! Destaco tudo! A farofa da minha tia Gerondina parecia pipoca viciante. O pernil do meu irmão Rogério é O PERNIL! Ninguém faz igual.

Uma turma aqui, outra ali, muitas gargalhadas, presentinhos diversos, presentões para as crianças que já estrearam imediatamente suas graças.

Aí vem a parte mais avassaladora. Minha mãe, primos, cunhada, sobrinhas e tia já estiveram por lá o dia inteiro arrumando, ajeitando, enfeitando, cozinhando, trabalhando duro. Serviço de casa. (Aquele que é eterno!)
Depois de ver minha tia ter lavado tanta louça, ali na beira da pia, sem parar,  nem consegui comer minha sobremesa direito. E olha que o que mais amo é doce! Assumi.
- Deixe comigo titia! A senhora já trabalhou demais.
 Ela disse que aquilo é uma diversão... tsc.. tsc...! Minha mãe diz o mesmo, algumas primas, mas eu não acredito! Limpar e lavar sem parar, nunca foi diversão de ninguém. Só de quem tem algum tipo de problema sério na cabeça.

Aí eu entro do avesso. Fui lavando, lavando, limpando, lavando mais. E não acabava nunca! Comecei por volta das 23h00. Algumas pessoas foram se despedindo de mim, eu na pia. Me beijavam, feliz natal, eu na pia.
Mais louças empilhando. Pra desocupar, secava, guardava e começava tudo novamente. Mais louça. Talheres de todos os tamanhos e jeitos. Coisas que nem sei o nome.
A casa foi ficando silenciosa. Escutei apenas a conversa suave de alguns familiares na sala escura, iluminada pelas luzes de enfeites de natal e o som do meu trabalho na cozinha. Mais louça.
Xiiiiiii! Tinha me esquecido das panelas. Panelas gigantescas! Pra quê tanto exagero?? Nem um batalhão come aquele tanto de comida. De vez em quando, um ou outro chegava e dizia, tenho um presentinho... (Cruz credo!)
Mais louça! Copos, pratinhos, talheres. Não sei de onde surgiu tanta coisa pra lavar. Fui juntando os panos de prato já molhados e colocando de "molho" na pia ao lado, porque na casa da minha mãe, tem todo um esquema montado, pra sair tudo perfeito!
Fui pegando novos panos de prato, limpinhos feito algodão, como se nunca tivessem sido usados. Lá é assim...
Sempre foi assim.
Minha mãe já tinha ido se deitar, mas antes, tinha me dito para levar comida e frutas para todos nós, com fartura.
Meu pai veio dar bom dia! O relógio marcava 3h da manhã e eu na pia.
Lembrei-me do fogão!
- Deus do céu! Minha mãe não pode ver este fogão sujo. Ela não suporta sujeira!
Fui então, do meu jeito desastrado, limpar o fogão. E pra encaixar as peças depois??? Não fui preparada para isto. Tive que chamar os especialistas em montar e desmontar coisinhas. Meu sobrinho Olavo, de 2 anos, faria isto com maestria. Eu não consigo!
Foi me dando um misto de desespero, cansaço, vontade de chorar, ou de rir muito, que comecei a achar que estava delirando.
O chão estava um caos!
Lá do corredor, muito longe, minha mãe avistaria a marca de uma uva amassada. Mais desespero. O chão. O chão precisa ser limpo.
Tirei as cadeiras todas. Varri, limpei, limpei, limpei. Tentei..., tentei...
Mais louças! Voltei para a pia. Por fim, achei uma panela imensa onde o Rogério tinha feito um risoto de bacalhau. Pronto! Meu castigo estava completo. Perguntei a mim mesma o que tinha feito de tão grave para merecer aquilo? Eu detesto qualquer tipo de peixe, ou frutos do mar. O cheiro me dá náuseas. E eu fui lavar aquela panela, resignada, dizendo ao meu irmão bem baixinho, que, certamente já dormia em paz na sua casa:
- seu canalha! Estragou o meu natal com este bacalhau. Que cheiro horrível! Bacalhau não rima com natal! Que idéia de jirico.
Achei que tinha terminado. Não, não. Tinha a mesa de frutas, nozes, avelãs, chocolates, panetones. Que mesa linda e bem arrumada pra ser desarrumada depois.
"Isto eu chamo de correria atrás do vento."
Eu juro que fiz o meu melhor. Desinfetei, relimpei, juntei mais louças, guardei tudo no lugar que sabia que estava certo, pois todas as peças na casa da minha mãe se encaixam. Pra todas as coisas tem um lugar. Da panelona grande, a comida vai pra panela menor, depois pra uma vasilha média, pequena, minúscula, até a comida acabar. Tudo é milimetricamente organizado. Como ela consegue?
Ok! Cheguei aonde queria. Minha irmã era perfeccionista.
Vocês não entenderam!! Ela era PER-FEC-CIO-NIS-TA! Do tipo maluca de pedra. Roupas guardadas por cor, tamanho, livros, cd's, fitinhas k7, caixas, perfumes, utensílios, canetas, agulhas. Sim. As agulhas eram organizadas. Nós vivemos juntas até eu completar uns 16 anos, quando tivemos um violento "litigioso", porque eu joguei meus tênis ao chegar do colégio, na linha "imaginária" que pertencia a ela no quarto. Metade dela. Metade minha.
Metade céu, metade inferno!
Senti falta dela. Chorei muito, não queria que ela saísse do quarto, tinha medo de dormir sozinha, mas ela não me suportou.
Reconheço! Eu sou muito desorganizada. Mas eu sou limpinha!!! Só que isto não é o suficiente. Não pra mim. Nunca foi até o dia que antecedeu a partida dela.
Em confissão de irmãs, ela disse-me que eu era sim muito desorganizada, bagunceira, esculhambada, mas que podia contar comigo em qualquer instante da sua vida e, como aconteceu, até o momento em que partiu.
Nós éramos assim. Ela sol, eu lua. Ela tempo aberto, eu tempestade. Mas nós nos completávamos com uma perfeição que só Deus mesmo explica.
Mamãe tentou me fazer uma menina-mulher prendada. Tentou me ensinar a organizar com perfeição, costurar, cozinhar, coisas que ela já nasceu fazendo...
Eu não consegui aprender. Talvez eu não quis aprender. Afinal a Claudinha já era tão perfeita.
Mas minha mãe nunca foi de me cobrar absolutamente nada. Aliás, esta estória termina muito bem. Porque recebi um telefonema dela há pouco, dizendo-me que amou minha "arrumação".
Interessante que eu estava apavorada ontem com a aprovação dela sobre o que eu estava fazendo. E as lembranças de outrora voltaram fortes. Meu sobrinho me abraçou enquanto eu lavava a eternidade de louças e eu olhei exatamente para a rua onde passei toda minha infância e adolescência e disse:
- Bruninho, eu só queria andar de patins!!!
Quando eu era menina, que era meu dia de lavar a louça, eu não conseguia. E chorava porque não fazia direito e não estava andando de patins... (eu tentava lavar a louça com os patins nos pés!)

Assim é a nossa vida. Como pode aquela pequena gigante da minha mãe, conseguir deixar organizada uma casa tão imensa? Tudo no seu lugar? Isto é um dom.
Como pôde minha irmã deixar as suas coisas em perfeita ordem, até a hora de ir?
Como podem estas mulheres incríveis que fazem de suas casas, verdadeiras obras de arte, porque serviço de casa é coisa pra artista e pra gente muito forte!
Vou morrer sem entender.
Talvez morra sem aprender.
Honestamente não faço muita questão. Minha cabeça pensa demais em outras coisas e a louça me atrapalha a concentração.
Finalmente, devo dizer que sou fã incondicional de vocês. Em especial da minha mãe e da minha irmã. Mas não quero ser como vocês não.
Higiene sempre! Organização..., bem..., cada um que cuide do seu pedaço! Deixem o meu em paz...
Só me digam, por favor, onde está mesmo meu controle remoto e meu celular?

Gláucia Carvalho
25.12.2013
(Dedico à minha mãe e minha irmã. As mulheres mais organizadas, limpas e perfeitas que já conheci na vida!)

sábado, 31 de agosto de 2013

Imprevisível



E se volta novamente e é redondo,
Feito o mundo assim repleto de imprevisível,
E o sonho já guardado, impossível,
Volta a molhar a minha alma ressequida.
Esquecida de como é boa essa vida,
Quando há trilhas e um mar no horizonte,
Quando há gente que te pegue pela mão,
E te ajuda com as pedras no caminho.

E eu volto quantas vezes for preciso,
Para ter as sensações que sinto agora.
Entre o mar, os morros, as dunas, os ventos,
Reside o momento que amo desde outrora!

Gláucia Carvalho
27.7.2013

Pedaço de vida



E parte desavisado.
E parte meu coração já pequeno,
Meu pedaço de vida, moreno,
E parte sem despedida, é melhor!
Não choro o que nunca tive,
Não lamento o que nunca terei,
Me nego a sofrer o que só sonhei...

Gláucia Carvalho
20.7.2013
O sol nasce nascente.
Ninguém vê.
O sol some. Poente.
E a vida segue gente,
e ninguém mais vê!
Qual foi a última vez,
que vi uma estrela cadente,
juntando-se aos vagalumes?
Quando foi que fui arrebatada
pela lua exibida,
redonda da cor preferida,
que tem os sonhos meus?
Lá se vai a lua e o sol,
Sem nem mesmo dizer um adeus...
Lá se vai o sol e a lua,
deixando minh'alma nua,
sem os mimos que vêm de Deus!

Gláucia Carvalho
30.08.2013

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Partes

Por vezes eu fico distante,
No lugar que disse antes,
Aquele de não pensar.
Mas vem uma vontade forte,
De voltar pro centro norte,
Onde mora o meu coração.

Parte dele veio comigo,
Parte dele ficou.
E como sou um pedaço destas partes,
 

Preciso retornar ainda que as artes,
De Deus me puxem para o lado de cá.

E ainda que a chuva me atraia, o vento e sua canção
Não há beleza tanta, nem mar, morros, brisa,
Que me façam resistir ao canto de uma Luísa...

Gláucia Carvalho
06.08.2013

domingo, 28 de julho de 2013

Às vezes preciso sumir,
Ir pra um lugar de não pensar.
Onde há o encontro do sol,
Nas águas ao longe a queimar.

Às vezes preciso de outros sons,
Que me façam refletir onde estou.
Pra sentir mais de perto o Criador,
E volver os olhos pra onde vou...

Às vezes eu queria que fosse pra sempre,
Este lugar de aromas alucinantes,
E sempre queria estes às vezes,
Nunca mais de mim tão distantes...

Gláucia Carvalho
21.7.2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Cansei

Cansei.
De esperar, de dançar, de ouvir.
Cansei de ficar. Me canso ao partir.
Cansei.
A idade já diz pra eu me aquietar.
Mas minha alma andarilha, não descansa de sonhar.
Já cansei de sonho. Chega!
Já casei. Descasei. Desabei.
Reergui. Escrevi poemas e fados.
As fadas se foram, os corais são calados.
Os meus braços e mãos, meus pés, coração,
Estão todos terrivelmente cansados!

Gláucia Carvalho
09.7.2013

terça-feira, 25 de junho de 2013

Dor

A dor que se fora, enterrada, esquecida,
Volta a assombrar-me de uma forma doída,
E eu que jurei ter guardado meu luto,
Quarentenas, velórios e missas rezadas,
Suponho que a dor é mais forte que a morte.
Sobra-me azar, ou falta-me sorte!

Gláucia Carvalho
24.6.2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Saudades

Ah este filme? ela amava...
A música que ouvi agorinha?
Também.
O jeito que organizei meus livros de poesia,
Ela aplaudiria.
Que falta você me faz meu bem.

E as lembranças dos acampamentos,
Mata burro, pinguela, tantos momentos,
Tantas gargalhadas, que foram partidas
E transformadas em vidas,
Sempre trazendo outro alguém.
Que falta você me faz meu bem.

Vou vivendo sem você,
Mas te tenho no meu pensamento,
Toda noite, todo dia, nas madrugadas e além,
Ah que falta você me faz meu bem...
Espero te encontrar logo, amém!

Gláucia Carvalho
18.6.2013

(Claudinha, até já, já!)

Janela



Fiz uma poesia de dois mundos
Separados por uma janela.
Por ela eu encontrava em profundo,
O amor que tenho por ela.

Como somos assim parecidas,
As cores, perfumes e vidas,
Os amores e também desafetos,
Da janela eu a vejo e aceno,
Como eu a queria por perto...

Gláucia Carvalho
21.6.2013


(Dedicado à minha amiga Carla Cóias, que, como eu, ama janelas.)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Eu e as coisas

Fui pegar água para tomar um remédio.
Subi com a água.
O remédio tava lá embaixo.
Desci com a água.
Subi com o remédio, deixei a água.
Desci pra pegar a água.
Ela sumiu!!!!
Peguei outra.
Subi.
O remédio é bem menor que a água.
Sim, ele sumiu.
Refiz todo o processo.
Algum de vcs pegou o remédio, ou a água?
Desci novamente.
Meio que sem saber se tinha ou não tomado o remédio,
Sentei no meio da escada desapontada.
Isto é conspiração das coisas.
Eu não fujo das coisas. Elas fogem de mim.
Se eu tomei o remédio?
Sei lá!!!

Pra que o remédio?
Boa pergunta!
Pra memória!

Gláucia Carvalho (em uma manhã confusa)
9.6.2013

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Eu e o Vento

Estávamos eu e o vento.
Eu disse fica!
Ele respondeu, tenho que ir.
Sim, eu te amo morena,
Mas você é tão pequena,
Pra o tanto que tenho pra dar...
Eu chorei, foi em vão.
Novamente eu disse, fica! Me abraça.
Ele me bagunçou os cabelos, num abraço de ventania.
Eu supliquei em agonia,
Por favor, não me deixe mais!
Ele saiu de mansinho,
Mandando brisas e beijos, com um jeito de quem sorri.
Inconformada eu sempre soube que ele é meu,
Mas roda o mundo, abraçando outras por aí!

Gláucia Carvalho
6.6.2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ironia

Não existe ironia maior,
Que a de em si mesmo estar.
Minha vida é um dilema
Sou solução, sou problema
E de mim, não consigo escapar.

Gláucia Carvalho
30.3.2013

Mistérios

Tanta coisa não foi escrita,
Tanta coisa não dita.
Prosas não contadas,
De estrelas apagadas,
Que ainda cortam o céu.
Há certos mistérios guardados,
Pelo Criador a sete chaves,
E mesmo que todas as aves
Intentem os segredos desvendar,
Coisas pequenas e as grandes,
Só serão reveladas aos mortais,
Quando passarem dos meios,
Para os seus finais.

Gláucia Carvalho
22.5.2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Rio

A curva daquele rio,
Mais parece um violão
E o som da água cristalina,
Soa pra mim como canção.

E como a canção que não retorna,
A água que passa não volta também não.
E se não mergulhei naquele instante,
Meu desejo foi em vão.

Os desejos são quimeras,
Daquilo que já existiu.
Poemas não serão mais escritos,
Do rio que já partiu.

E nossas crianças descrentes,
Apenas saberão do que foi registrado,
Já era rio, cachoeira e mata.
Ah tempo desgraçado!

Gláucia Carvalho 

Música: Ivan Nogueira
30.1.2013