quarta-feira, 21 de março de 2012

Todo mundo

Todo mundo me ama,
Todo mundo me chama,
Chama, chama que arde,
Já é tarde e eu estou sozinha...


Todo mundo me quer,
Todo mundo me deseja,
Enseja, enseja, nem que seja sonho,
Eles sonho. Eu sozinha...


Todo mundo me diz carícias,
Delícias, delícias, tenho medo,
É sempre segredo,
Já é cedo e eu continuo sozinha...


Todo mundo me quer,
Todo mundo me ama,
Todo mundo me deseja,
Eu acho tudo uma  peleja,
Eu sonho, sozinha...


Gláucia Carvalho
22.3.2012

Musa de ninguém

Quem foi o insano que disse,
Que eu mesma me basto.
Ah... eu me gasto, eu me casto.


Quem é a pessoa que pensa,
Que eu não gostaria de ter,
Outra pessoa do lado,
Para que eu pudesse ver.


Para que outros pudessem ver que pertenço.
Que pelo menos de alguém eu sou musa,
Sinto-me velha e cansada, 
Como meu espelho que me acusa!


Ninguém ao seu lado lady.
Ninguém para te esquentar,
Eu concordo com o espelho maldito,
Eu sempre tô sozinha por lá.


Tô sozinha por aqui e para sempre,
Até que um sonho venha me dizer,
Você é de todos e todas,
Mas a ninguém vai pertencer!

Eu eu digo novamente, espelho maldito!
Eu só queria ser comum, ser maresia,
Ele paciente refuta,
Você é amante e prisioneira da poesia!


Gláucia Carvalho
21.3.2012


(em resposta aos fantásticos poemas de Eduardo Ramos, "sobre poetas e musas."

Tempo Destemperado

O tempo, que me tempo dá,
E o mesmo que me consome,
Que me dá do céu fome,
E que não para pra descansar.

Se o tempo  me desse um tempo
Para eu poder não pensar,
Certamente eu teria menos tempo,
O tempo não pode parar.

Então eu paro com as indagações de agora,
Ao escrever o próximo verso
O meu tempo já foi embora
O meu tempo não volta mais e eu só preciso de paz.


Só preciso de sossego pra escrever apenas mais um
E dizer que sou cativa do tempo e que ele é cativo de mim,
Se eu posso fazer versos neste tempo,
Ele não é cruel, nem ruim.


Posso dizer para o tempo,
Vamos trabalhar nós dois.
Ele maroto me diz,
Faça logo, que eu já sou depois!


é... o tempo passou!


Gláucia Carvalho
21.3.2012

terça-feira, 13 de março de 2012

Copos de Requeijão

Como eu sou diferente de quem me concebeu.
Ela é ela. Eu sou eu.
Dela são as porcelanas, a mesa devidamente arrumada,
Os talheres cada qual para sua função,
Minhas são as panelas no fogão,
E se querem beber, bebam no copo de requeijão.


Como sou diferente daquela
Que exatamente como minha irmã criou
Mas não teve jeito uma foi educada,
A outra simplesmente desandou.

Ambas, minha irmã e minha mãe,
Beiram à piscose da organização,
Não dormem se não tiver tudo guardado,
E ai se tiver panela suja de feijão.

Eu durmo no que sobra da minha cama,
Onde ficam roupas, livros, controles, pijamas,
Bolsas, filhos e não é raro não
Encontrar uns copos vazios,
Todos de requeijão...

Gláucia Carvalho
13.3.2012

(reciclem os copos de requeijão, massa de tomate. Eles são praticamente inquebráveis e dão "cria"...)

Maria

Quem é ela? alguém diria...
Quando eu passasse descalça,
É uma qualquer "Maria",
Que a nossa visão embaça.

Com este olhar tão distante,
De Maria que não sabe pra onde vai
Que confunde as "não-Marias",
Porque tropeça mas não cai.

Pode ser a Maria de todas as Dores,
Porque de dor aos poucos ela morre,
Pode ser a Maria do Socorro,
Que a todos, menos a si, socorre.

Pode ser a Maria Aparecida,
Que desaparece em um segundo,
Pode ser a Maria dos Amores,
Que nunca teve um amor neste mundo.

Eu sou das Marias, de todas elas, um pouco,
Com suas dores, segredos, suas lágrimas infindas,
Eu sou Maria Mulher dotada de beleza,
Eu sou a Maria Menor, a Maria Tristeza.


Gláucia Carvalho
13.3.2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

Todo dia é da mulher

Mulher, mulher, o que tu "quer"?
Já não tá bom o bastante lavar, passar, cozinhar,
Cuidar dos "mininu" e ainda ter que trabalhar?
Mulher, mulher, porque reclama?
Só porque tem que ficar bonita na casa, no trampo, na cama?
Oh mulher, mulher, é pouca coisa pra fazer.
Experimenta pegar água no poço, levar na cabeça e ainda cozer.

Mulher, mulher nosso dia tem 48 horas.
Isto é fato comprovado.
Nenhum ser humano faz tanta coisa em tão pouco tempo,
E ainda cuida de filho adoentado.
De marido ciumento, de cozinha desinfetada,
Da frente limpinha como uma aliança,
Pra não aborrecer a vizinhança.

Mulher, mulher, eu sei que nosso tesouro tá guardado,
Mas tente ser menos desencanada.
Tome mais banhos de chuva,
Junto com a molecada.
Aproveite e jogue bola, deixe a geladeira vazia,
Os rebentos morrem de fome, alguém vai encher um dia.
Deite de pernas para o ar,
Leia o que te agrada,
Brinque de ser modelo,
Finja que é bem magra!

Mulher, mulher, você é muito mais que isto,
De mais a mais, ninguém é perfeito,
Se o marido não tá satisfeito,
Diz para ele ir limpar.
Que você não tá vendo sujeira,
Debaixo do sofá...

De mais a mais, você precisa de massagem nos pés,
De massagem no ego,
E quem não consegue te ver múltipla, gigante,
É porque é cego.


Mulher, mulher, não se cobre,
Não dobre, desdobre e dobre novamente,
Tenha em mente que os adornos mais belos,
São os rebentos em volta da mesa,
Que é bela também a tristeza,
E chorar faz bem ao coração.

Para a pele sugiro um protetor-solar,
Todas as gargalhadas que puder dar,
Chinelinhas confortáveis para passear,
E a hora que quiser, vá dançar!
Afinal, somos nós mulheres quem edificamos
Com sabedoria nosso lar,
E podemos ter bem mais que imaginamos,
Quando Jesus reina por lá!

Gláucia Carvalho
8.3.2012

Dedico à maior de todas, minha mamãe!
(FELIZ DIA DAS MULHERES!)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Eu

Se eu disser que não vejo mais beleza,
Não tentem me convecer do contrário
O meu nome é tristeza.


Se eu não sorrir mais com a chuva,
Não estranhem o meu ócio doído
Há muito eu sou viúva.


Se eu não quiser mais os ventos,
Despenteando minha sorte,
Lembrem-se que de todos os mares,
O que me engoliu foi o da morte.
 


Gláucia Carvalho
Primeiro de março de 2012

Eu Preciso

Eu preciso versar
Eu preciso musicar,
Os grilhões prendem-me nas cordas vocais,
Não vejo nenhum porto, nem um cais.

Eu preciso solfejar alguma melodia,
Eu preciso me lembrar das poesias,
Sou eu nelas todas e meu sangue jorra harmonia,
Espero estar ainda viva, quando raiar o dia!

A noite tá tão longa e não enxergo meu piano,
Sei que há um palco e estou presa no pano,
Que em breve se abrirá como do sol o raiar,
Eu espero estar ainda viva, para ainda cantar!

Gláucia Carvalho
1.3.2012